10.8.11

Rascunhos de uma Grande Paixão (Capítulo I)


«Pumm!» O barulho violento da porta do quarto a bater terá sido talvez o único ruído que terei feito após ter virado as costas aos meus pais, passado a minha fiel T-shirt do Beattles pelos meus olhos lacrimejantes enquanto subia as escadas que davam acesso ao primeiro andar, dirigindo-me depois para o meu respectivo quarto e ter aberto a porta. Pensativa e com os olhos feitos num mar de desilusões, perdi-me no conforto da minha cama. Mas aparentemente, nem a segurança desta, que me acolheu tristezas e alegrias, me estaria a estancar as lágrimas que já me turvavam a vista e o pensamento.
« Tenho quase os meus 20 anos e a mesma independência de há 4 anos atrás!» praguejei eu para o ar.
«Andei o ano inteiro a aturar o ingrato do meu patrão mais as invejosas das minhas colegas de trabalho, e após tantas horas de trabalho, se não por vezes durante, ainda voltava para casa para verificar como estava a Joaninha. E agora? A minha viagem de sonhos com o Gonçalo, a Salomé e o resto do pessoal estava pendente, pois os meus ricos pais não sabiam se poderiam ter alguma espécie de reunião extra, mas importante, como diz o meu adorado pai, e depois não havia ninguém de confiança para cuidar da Joana.»
«Eu já não sou aquela Madalena de quem vocês se apoderavam de corpo e alma para todos os vossos caprichos e medos! Eu sou uma mulher! Uma mulher que trabalhou arduamente e que merece uma generosa recompensa!» subi o tom.
Não era tarde nem era cedo, passados uns bons minutos (se não horas) separei gavetas de cômodas e roupas de gavetas, enfiando todo esse entulho na minha prática mochila de campismo.
«Agora é só esperar que a casa acalme» sussurrei para as linhas soltas da minha camisola.
Enquanto esperava, decidi escrever algumas cartas a anunciar a minha partida...

Queridos pais, muito obrigada pela dispensável mas relevante discussão, pois agora mais que nunca sei dizer "basta!". Preciso de viver um pouco, de um tempo só para mim, por isso vou passar as minhas férias a Sidney como planeio há relativamente bastante tempo. Espero que percebam e que abram os olhos para a realidade, ou mais especificamente para a Joana, pois há muito que o tento fazer e talvez com a minha partida isso aconteça. Um adeus, da vossa filha, Madalena.

Não contava implicar grandes discursos aos meus pais, penso que tudo o que deveria ter sido dito, terá sido discutido anteriormente. Agora, viriam as palavras mais complicadas.

Querida Joana, tu apesar de teres estado no teu quarto, provavelmente escondida por entre os teus lençóis, deves ter percebido pela gritaria e agitação que as coisas entre mim e os pais não estão nas melhores condições. Desculpa se o meu egoísmo se apoderou das minhas decisões, mas durante estes 3 meses não vou poder estar tão presente para ti como estavas acostumada a eu estar. Sim, quando me refiro a 3 meses fora, estou-me a referir a tão esperada e planeada viagem a Sidney, eu simplesmente preciso de me afastar, arejar a cabeça, viver e conhecer o que está lá fora.
Lembraste de quando fomos fazer aquele acampamento que tu tanto querias ao Gerês? Tinhas quê? Uns 13 anos, idade em que todas as tuas vulnerabilidades começaram a revelar-se. Mas mesmo assim, tinhas uma vivacidade dentro de ti completamente merecedora do meu orgulho. Eras louca pela novidade, ainda me lembro quando tu decidiste afastar-te de nós, e aventurares-te pelos trilhos da serra sozinha. Fogo, se me recordo disso, andamos quê? Quase 2 horas à tua procura, sorte a nossa que um segurança do parque que se tinha oferecido para nos ajudar, te encontrou deitada em cima de um grande pedregulho na maior paz do universo, com o sol já na sua última despedida a iluminar-te a face com os seus últimos raios de luz.
Mas pergunto-te, retoricamente, o que sentiste tu enquanto percorrias todo aquele belo desconhecido? Sentias-te realmente perdida ou pura e simplesmente livre um vez na vida?
São estas perguntas que eu quero e preciso de responder a mim mesma enquanto estiver fora e suplico que me entendas. Amo-te minha pequenina, e não deixes que os pais te voltem a trocar pelo trabalho, pois desta vez eu infelizmente não estarei cá para te acudir. Não vou deixar de pensar em ti um segundo, estarás sempre nas minhas memórias, pensamentos e principalmente no meu coração. Mais uma vez desculpa-me, mas preciso disto. A tua sempre presente irmã, Madalena.

Dobrei as duas folhas de papel, ambas com lágrimas escondidas por entre as palavras redigidas pelo azul da caneta que a minha irmãzinha me dera no Natal. De seguida dirigi-me ao quarto dos meus pais, entrei sorrateiramente, e coloquei o pedaço de papel destinado aos meus pais dentro do bolso do velho roupão cor de salmão que a minha mãe tanto mimava, e sem olhar para trás, voltei para a porta sobre os meus pés de lã.
Após ter encostado a porta dos meus pais, dirigi-me para o quarto da Joaninha. Forte era o bater do meu coração naquele preciso momento, tão forte que nem as paragens no meio do curto trajeto seguidas de pensamentos de incentivo, o acalmavam.


Agarrei a maçaneta dourada da porta e dei um grande suspiro antes de entrar (talvez um dos maiores que alguma vez terei dado). Abri a porta, coloquei o meu corpo para dentro do quarto, e reparei na inocente Joana a dormir. Tinha que me despachar antes que alguém acordasse. Caminhei para junto dela, beijei a carta e coloquei-a em cima da rústica mesinha de cabeceira. Tornei a mirar a doce e inocente Joana e sem hesitar beijei-lhe a testa, acariciei-lhe levemente o rosto e sai o mais rapidamente possível do quarto da minha irmã e de seguida de casa.
Agora era só eu, a minha mochila cheia da mais variada tralha, a minha adorada máquina fotográfica ao pescoço, um aperto enorme no peito e o som das cigarras por entre a escuridão da noite.

20 comentários:

  1. Ai é? Então andamos todas muito bonitas :D
    quero o capítulo II pode ser? *-*
    eu também estou a seguir, muito muito obrigada!

    Muitos Beijinhos♥

    ResponderEliminar
  2. obrigada :$ beijinhos ;)

    ResponderEliminar
  3. claro que sim, acima de tudo estou smp eu. ainda bem que gostaste!

    ResponderEliminar
  4. Estou a gostar :)
    Continua.

    ResponderEliminar
  5. fico muito contente por gostares daquilo que eu escrevo *.*

    ResponderEliminar
  6. Seguindo o seu cantinho :)

    Retribui a visita?

    bjos


    Nah


    www.medicinepractises.blogspot.com

    ResponderEliminar
  7. estou a seguir o blog e a história, gostei muito *.*
    que idade de diferença tem a joana da madalena? :b

    ResponderEliminar
  8. obrigada pelas palavras , e sim é o melhor fazer :)

    ResponderEliminar
  9. só sofro , já ninguém me faz verdadeiramente feliz :c
    (gostava de não gostar de ninguem , ver sempre a vida de forma positiva .

    ResponderEliminar
  10. Obrigada minha querida *
    adorei o post (':

    ResponderEliminar
  11. oh muito obrigada pela informação *.*

    ResponderEliminar
  12. eu gosto tanto desse conforto de que falas , mas ele em mim , já nem existe .

    ResponderEliminar
  13. obrigada :) , gostei muito do teu blog querida $:

    ResponderEliminar
  14. adoro o blogue e lindo vou seguir segue o meu tambem se gostares *.*

    ResponderEliminar
  15. Podes crer Mariana, o filme é lindo *.*
    Gostei :)

    ResponderEliminar
  16. também gostei muito do blog, vou seguir :)

    ResponderEliminar
  17. Adorei o blog, vou seguir :D

    ResponderEliminar