9.9.11

Com o saco cama pelas costas e computador no colo, encontrava-se Matilde encostada a uma parede do quintal do amigo Miguel, acompanhada apenas pelo silêncio da noite e pequenos pontos de luz branca no céu. Estava a ver a sua série favorita na Internet, e enquanto o fazia, pensava de o quanto extravagante e ficcional ela era. Era impossível haver tanta aventura relacionada com jovens entre apenas os 15/18 anos de idade, era simplesmente surreal, mas compatível com as ilusões e fantasias de Matilde. Quanto mais ela se agarrava a série, mais se desligava do mundo. Tudo acabara por se tornar em pensamentos e lembranças de noites, abraços, sorrisos e principalmente palavras que trocou com Sara, uma das suas melhores amigas. Sara morria de amores pelo melhor amigo de Matilde, Nelson (que lhe era duplicadamente correspondido), e acabara de lhe contar o que se terá passado nessa noite entre ambos. Nesse momento, instalou-se uma melancolia incontrolável em Matilde, visivelmente notável por Sara. Então Sara pergunta-lhe como estavam as coisas com António, o recente e suposto residente no coração de Matilde e também grande amigo de Nelson. Matilde responde-lhe com um simples "normal", mas Sara repara que algo se passa e aprofunda mais o assunto, até que Matilde lhe fala que Nelson lhe dá conselhos instáveis sobre António. Contou-lhe de como num dia a apoia em seguir em frente, como noutro lhe diz que é um erro e que deve desistir. Sara melhor que Matilde, conhecia as artimanhas de Nelson na área das paixões, e sugeriu-lhe que talvez Nelson estivesse apaixonado por ela. Óbvio que tal coisa nunca ocorrera na cabeça de Matilde. Nelson seria o seu melhor amigo de sempre, era como um irmão de verdade. Quando o Joaquim, o primeiro verdadeiro amor de Matilde, começou a andar com Catarina, era ele quem lhe ligava todas as noites para a consolar até adormecer, por isso, nunca na vida ela trocaria isso por algo mais.
Meu Deus, cada palavra dita por Sara e relembrada, era como dinamite na cabeça de Matilde. E se Matilde realmente gostasse de Nelson? E se aquelas fracções de segundos quando os seu lábios quentes e carnudos chocavam nos seus fossem mais que puras brincadeiras e demonstrações de afecto amistosas? E se cada entrelaçar de dedos e pernas durante o sono, fossem sinais destinados a concretização? (...) Não! Nelson/Matilde, Matilde/Nelson, simplesmente não combina!
Raparigas do tipo dele não eram como Matilde. Aos olhos dela, Nelson era muito superficial nas suas escolhas, daí ele nunca ter tido grande sucesso.
Ela não conseguia absorver mais nada se não esses pensamentos. Tentava-se esforçar por pensar em António mas não, Nelson era mais forte que ele nesse momento. Lágrimas começaram a escorre-lhe pela face, aterrando-lhe nos lábios. Sabiam a medo. Medo de perder o seu melhor amigo por uma parvoíce banal e estúpida do coração. Ela sabia que tinha que largar estes pensamentos e seguir sem lhe contar nada. Tudo iria ficar guardado entre ela, Sara e pelos antes mencionados, silêncio da noite e pequenos pontos de luz branca no céu.

5 comentários: